quarta-feira, 7 de setembro de 2016

MISSIVAS DE ABRIR CAMINHO I


MISSIVAS DE ABRIR CAMINHO I

O CARPINTEIRO DAS PALAVRAS
por Marcelo Othon Pereira


                O Conflito brasileiro. A cada qual sua parcela de culpa, mas... para onde queremos ir?


                Os poderes constituídos, com contribuição capital da mídia, têm, por seus atos, instaurado um verdadeiro caos no Brasil.  


                Poder-se-ia crer que a cisão é decorrência natural da última contabilização nas urnas dos votos para Presidente, onde ambos os candidatos, Aécio e Dilma, obtiveram expressiva votação, o que delinearia uma sociedade nitidamente polarizada no tocante à opção política. 


                Penso ser bastante ingênuo assim considerar, pois a cisão social que deparamos nos tempos atuais não é fruto de mera divergência de opção política e ideológica, mas, ao contrário, decorreu de comportamentos induzidos mediante uma sucessão de fatos e acontecimentos no cenário político e midiático.

                É bem certo que a divergência de opção firmada nas últimas urnas presidenciais foi utilizada habilmente para mobilizar aecistas em torno de um movimento de deposição do poder instituído, quando o movimento verde e amarelo saiu às ruas protestando contra Lula e Dilma. As maquinações midiáticas, sob véu oculto de forças políticas e econômicas, fizeram renascer nos contrários ao PT e aos movimentos de esquerda o desejo de suplantar a derrota sofrida nas urnas a pretexto de encontrar e punir culpados e destituí-los do poder ou, de qualquer modo, responsabiliza-los pela crise econômica.


                Daí, conseguida a queda da Dilma, qualquer atitude dos defensores de Dilma e Lula é devolvida na mesma moeda pelos opositores, que têm na manga tantos argumentos, posts e memes para pô-los sob suspeita.

                Os defensores de Dilma, por sua vez, sentem-se traídos ante a convicção de que a queda de Dilma tem como mote o desejo de tomar o poder ilegitimamente, o desejo de barrar a lava-jato, o desejo de continuar a roubalheira.

                Temos um cenário social de violência instituída, de acirramento de ânimos, de revolta. O povo polarizado em facções contrárias, à guisa de defender seus ideais até às últimas consequências, com certeza, não desencadeou toda esta trama, mas é o motor para que esta novela continue, e não deixa de ser cúmplice desta novela, pois que, afinal, cada um de nós é um célula de vontade política e, por seus atos e escolhas, influi no concerto social. 


                Em tal cenário de acirramento de ânimos, de busca atroz de culpados, é muito grande a sedução de apontar o dedo, demonizar os desafetos, num jogo de bem e mal, que, às vezes, parece querer chegar ao desfecho, mas a polêmica brota, renasce, ganha nova força no influxo dos desejos em contenda.

              
  Este cenário do povo digladiando entre si é bastante desolador. Penso que é uma condição que qualquer um de nós em sã consciência não desejaria para si. Digo isto porque a face da verdade, a evidência do bem e do mal, o desvendamento dos fatos, o encontrar culpados e purgar os inocentes, é tarefa institucional dos poderes instituídos, judiciário, legislativo e executivo e, digo, ser muito cômodo a tais poderes que o povo tome pare si esta tarefa. Diram os parasitas de plantão, aboletados no poder: - deixe que o povo tome para si as responsabilidades que a nós caberia; - deixe que o povo acredite estar fazenda justiça; - deixe que se antagonizem. Quanto mais polemizarem e firmarem cavalo de batalha, melhor. Melhor pois estarão representando uma novela que não vai dar em nada mesmo... Melhor o povo dividido, pois lutam um com os outros, mediante uma polêmica que renderá juros por muito tempo, tempo suficiente para continuarmos nos safando, enganando, levando adiante os esquemas de corrupção. Melhor o povo dividido, pois povo unido, consciente de seus direitos e prerrogativas, foca, exige e cobra. Povo dividido, esperneia, degladia, geme, treme, mas não sabe para onde vai...


                Esta indução maniqueísta de ambos os lados, sob a bandeira de demonizar culpados, alardeando “Fora Temer”, “Fora Cunha”, “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora Aécio”, a quem interessa? Quê adianta destruir o desafeto pelo ódio se os fatos permanecem somente na esfera dos indícios, das suspeitas, da troca de memes e posts, sem que os poderes constituídos, Polícia, Ministério Público, judiciário, Comissões legislativas de justiça, tomem para si o dever de apurar os fatos e realizar a distribuição de justiça?


                Penso que o Estado de Direito e a Democracia sofreram gravíssimo ataque ao deporem Dilma à míngua de crime de responsabilidade, deporem Dilma forjando crime inexistente. Ao contrário do que ingenuamente se possa supor, o protesto contra a usurpação do poder da Dilma não é bandeira dos simpatizantes do PT, da esquerda e da Dilma, mas um protesto em face da arbítrio de destituir alguém que foi colocado no poder por força das Urnas sem razão constitucional e legal que justifique. Qualquer um que seja subtraído do poder em tais condições, seja da direita ou da esquerda, será gravemente injustiçado e, mais ainda injustiçado o povo que representa. Ao abrir precedente para que caprichos permitam deposição do poder, então alguém será retirado do poder porque não gosto de sua política econômica, porque não gosto de suas ideias, não gosto de suas preferências sexuais, não gosto de sua raça, etc.  Em tal circunstância, a legalidade escorre pelo ralo. Não há mais garantia, senão arbítrio e veleidade. Todos saem perdendo e não apenas, como ingenuamente se possa supor, este ou aquele político destituído, independente de qual sigla partidária ou ideológica seja. 


                Não defendo propriamente Dilma ou Lula por acredita-los inocentes, mas por entender que os fatos que serviram de arrimo ao processo de impeachment não configuram crime e por entender que o processo nasceu viciado, pois que as tais pedaladas foram mero pretexto para a tomada de poder e utilizar tal poder em proveito próprio, em meio à já decantada cultura de disputada egoica dos partidos pelo poder. 


                Se me indagarem sobre a idoneidade de Dilma, direi não ter conhecimento de causa, mas, ao mesmo tempo, perguntarei em contrapartida: - do quê a acusam?  Se é disso que a acusam, então apurem com todas as vírgulas, levantem fatos, indícios, circunstâncias. Busquem a verdade custe o que custar.  Das pedaladas que a acusaram descobriu-se ser fato um tanto corriqueiro não administração pública e em momento alguém cogitou-se ou apurou-se que Dilma teve algum benefício pessoal ou mesmo teve a intenção de locupletar-se desviando bem ou dinheiro público em seu proveito.  Causa enorme perplexidade que, num cenário de nossa política pública de falcatruas, de desvio bilionário de verbas, de propinas, de esquemas envolvendo todos os escalões, o tema central da política e dos acontecimentos brasileiros gire em torno da tentativa de depor uma Presidenta pelas tais pedaladas que, no português claro, não passa de uma ação episódica de quitar débitos mediante empréstimo bancário com promessa futura de saldar a dívida, como acontece com alguém que, necessitando de pagar os salários dos empregados e não tendo dinheiro no caixa recorre ao Banco. 


                Do que acusam Temer? Lê-se nos memes e mensagens que circulam no Facebook muitas acusações de propinas, mas, em sã consciência, cabe a nós julgá-lo? Cabe a nós odiá-lo a ponto de encontrar em nosso âmago a plena convicção de que ele é o pior dos mortais. Absolutamente não!   Temer é para mim somente alguém que ocupa um poder que não lhe pertence e, segundo minha suspeita, parece ter muitos motivos para querer ocupar este poder, mas não tenho condição de julgar quais os motivos e nem, tão pouco, de passar sua vida a limpo a ponto de tirar uma radiografia de seus atos. Não cabe a mim ser inquisitor. Tenho direito, sim, a exigir que o Estado apure todo e qualquer crime onde haja indícios e provas de materialidade, com absoluta transparência, deve julgar qualquer político, independente da sigla partidária e de ser amigo de fulano ou beltrano. 


                Como disse, não cabe ao povo ser inquisitor e julgador de ninguém. Somos espectadores apenas dos fatos que nos trazem através da mídia e a mídia deve atuar com imparcialidade, utilizar seu poder de comunicar e adentrar em cada lar brasileiro com ética e responsabilidade social. O que temos visto na telinha Global é o show de horrores, traduzindo completa irresponsabilidade social e jornalismo a serviço de interesses menores, parciais, sem compromisso algum com a erradicação da corrupção e com a realização do Estado Democrático de Direito, veiculando a Globo, nos últimos tempos, a espetacularização da perseguição seletiva à Dilma, Lula e PT, compactuando para maquiar de legalidade o processo de deposição de Dilma, enaltecendo a manifestação daqueles que querem a cabeça de Dilma e omitindo ou minimizando manifestações contrárias, deixando de fazer reportagem séria e comprometida quanto aos crimes atribuídos a políticos como Eduardo Cunha, Aécio, Jucá e outros, deixando de trazer a público suspeita de engavetamento de processos-crime pelo judiciário, em situação que traduz completo desrespeito ao povo brasileiro e completo descompromisso com os interesses maiores da nação. 


                Enquanto o processo de Impeachment corria, a rede Globo alardeava novas acusações em face de Lula. Para quê e porquê? A suspeita, a polêmica é um bom pretexto para fazer apelo jornalístico, mas..., quem é que vai julgar? Quem vai julgar Cunha, quem vai julgar Aécio, que vai julgar Jucá, Lula e todos os demais suspeitos de corrupção que povoam nossas casas legislativas? Perguntando de outra forma: - porque se levanta a lebre da suspeita de um suposto crime em rede nacional, sem que tal tenha sido submetido ao crivo dos poderes constituídos, sem que existam provas suficientes à condenação? Em nossa cultura da espetacularização jornalística, a mídia torna o fato promíscuo, lança a suspeita e depois tudo cai no esquecimento. A mídia levanta as lebres no momento que lhe soe oportuno e conforme as razões do seu interesse em viralizar. Estes caprichos, sob a falsa bandeira de trazer informações a público, se explicariam muito bem se todas as intenções que tivessem por detrás viessem à tona.  Em suma, em nossa cultura midiática de utilizar o fato como joguete para interesses ocasionais e sub reptícios, qual é maior prejudicado senão o interesse público? e não propriamente o eleitor de fulano ou beltrano. 


                E mais, esta cultura de levantar suspeitas que logo caem no esquecimento é muito querida pelos criminosos de plantão, pois, convictos de que os processos acusatórios são engavetados no momento oportuno. As acusações e suspeitas somente tem servido como pretexto para as disputas políticas e como meio que os criminosos se valem para desviar a atenção para outras bandas à guisa de quererem se safar.


                O povo paga tributos e o Estado é organizado para fazer valer o Direito. Que o Estado processe e julgue todos aqueles políticos que se apropriem do dinheiro público. O povo tem direito a ver a lei ser efetivamente cumprida. Temos um judiciário muito bem pago e que não está acima de ninguém, ao contrário, tem o dever de aplicar a constituição e a lei sem nenhum casuísmo ou favoritismo. 


                Não podemos deixar que a mídia nos faça de idiotas, nos induza a ser inquisitores e senhores da bem e do mal, senhores da verdade. Com tal expediente a mídia coloca uns contra os outros, vai ludibriando o povo, vai manobrando com a intuição de perpetuar esta grande novela grotesca que é a vida pública brasileira comandada por políticos corruptos e vaidosos, subservientes ao poder econômico.



                Nosso povo tem direito a que as acusações sejam sérias, fundamentadas e que os processos de apuração de crime sejam concluído em tempo hábil com lisura pelos poderes constituídos, em especial, o poder Judiciário. 


                O povo não deve e não precisa se engalfinhar e se debater uns com os outros para provar à força quem é o bom e quem é o mal político. O povo tem o direito, sim!, de protestar, de perseguir seus direitos, de valer-se de suas prerrogativas cidadãs, de exigir que a ordem legal e constitucional seja cumprida, de exigir dos poderes constituídos o cumprimento das leis. De exigir que os criminosos sejam efetivamente julgados, mediante processo que garanta o direito de defesa e que tramite de forma correta e célere, para que a Justiça seja realizada efetivamente. O povo não merece ser manipulado por uma mídia, agindo sob influxo de forças ocultas, mídia, esta, que vive de levantar suspeitas, de enviar mensagens telegráficas sobre versões, utilizando tais expedientes como meio de induzir comportamentos visando fins estratégicos, induzindo a população a se antagonizar contra fulano ou beltrano, à guisa de obter dividendos políticos. 


                O povo tem sido constantemente vitimado por uma mídia e induzido a fazer justiça com as mãos e, ingenuamente, acreditando ser protagonista da história. 


                Acorda Brasil! Vamos focar. Vamos fazer valer nossa prerrogativa de exigir que a Constituição e a Lei sejam cumpridos. Vamos exigir que o Estado trabalhe pela erradicação de toda e qualquer ilegalidade, vamos cobrar mídia a serviço do interesse público e gratuita. Não podemos transigir com qualquer tipo de manipulação do povo.


                Vamos exigir que o voto seja respeitado e que os processos de impeachment não sejam utilizados de forma arbitrária, pois, como disse atrás, a deposição de um presidente, sem a ocorrência do pressuposto constitucional da existência de crime de responsabilidade, importa gravíssimo ataque à Ordem Constitucional e Republicana, constituindo, não mera afronta e este ou aquele presidente ou partido, mas afronta contra todos, contra o Estado de Direito, tornando qualquer poder vulnerável a toda sorte de interesses, no mais das vezes, criminosos e contrários à moralidade e ao bem comum.


                Somente o povo unido, consciente dos seus direitos, pode mudar esta nação. Justiça para ontem, hoje e sempre!


                Vamos exigir que o Judiciário pare de engavetar processos-crimes de políticos. Vamos exigir que o judiciário processe e julgue tais crimes com rapidez. Vamos exigir que o Senado e a Câmara dos Deputados cassem os políticos criminosos.        

  Acorda Brasil!